Depois de acompanhar o mundo da moda por um bom tempo e trabalhar com ela nos últimos dois anos, percebi que entrei nesse meio num momento de transição e inversão de poderes, onde ao que parece quem dita as tendências de moda passou a ser os fashionistas, tirando o monopólio de decisões das marcas. Peças que começaram a ser adotadas primeiro pelos fashionistas nas ruas vão sendo usadas nas passarelas, como os tênis esportivos e a volta das mochilas. Ficou um pouco confuso? Vamos lá, eu explico.
Acompanhar as tendências dos looks de rua, o famoso street style, virou uma prioridade das grandes marcas. Essa inversão de poderes, que me parece muito mais lógica, ficou evidente em desfiles de grandes marcas como a Chanel, que trouxe mochilas e tênis para seu desfile de inverno 2015, peças que pareciam ser impossível de aparecer na seleta grife francesa, conhecida pela pegada clássica. Depois de ler o excelente texto do amigo blogueiro Dhyogo Oliveira, do Sem Geração, sobre o normcore – tendência que mistura peças que originalmente poderia dar errado mas dá certo, valorizando conforto e composição despojada – e a jogada inteligente desse desfile da Chanel, evidenciei de forma mais clara essa mudança.
O consumidor está com o poder, ele agora comanda, e não estou falando do aquisitivo mas sim da informação, pois ele tem o poder da informação de moda, e com isso chega na loja com a referência do seu produto de desejo, pois ele já viu o em algum blog, rede social ou site de moda.
Acompanhar tendências ainda é tendência?
Estamos chegando num momento em que fica cada vez mais difícil identificar e acompanhar uma tendência, pois uma peça pode ser um trend em um determinado lugar e grupo de pessoas, mas não necessariamente global. Acredito que talvez estejamos chegando num momento em que o que é tendência esteja perdendo seu valor para a originalidade – o que acho ótimo.
Seguir uma tendência não parece ser mais prioridade dos fashionistas, não se mostra mais ser cool, o que eu venho percebendo ultimamente é que as pessoas interessadas por moda estão procurando encontrar o seu próprio estilo – THANK GOD!!! – ao invés de ficar copiando os looks e peças dos seus inspiradores. A máxima hoje em dia é ser exclusivo, é achar o seu lugar no topo, é ser o mais curtido do Instagram ou Facebook, e isso faz com que as pessoas enxerguem uma necessidade de ser o que faz a diferença, e não a copia do outro. Mesmo que ele use a uma camiseta igual a do colega fashionista, ele vai usar com uma pegada totalmente diferente, de acordo com o seu estilo, que veio amadurecendo cada vez mais com a quantidade de informação de moda que esse possui agora.
Por fim, vemos que o movimento da passarela para as ruas se tornou inverso, agora é do street style para os desfiles. As grifes continuam com sua grande importância, isso é evidente, porém agora elas estão muito mais preocupadas com o desejo de seu consumidor, procuram saber exatamente o que eles irão querer para poder trazer essa tendência para eles.