Depois de quase duzentos anos de sua invenção, parece que o smoking chegou em uma
encruzilhada. Em um mundo cada vez mais diferente e plural, será que a tradicional
vestimenta masculina encontrará um lugar para sobreviver? Ou estaria esse traje
destinado a cair no esquecimento tornando-se um fóssil do mundo da moda?
O smoking tem problemas conceituais, certamente. A começar pelo nome, associado ao
hábito de fumar (em inglês, smoking jacket). O corte alongado do paletó, criado em
1860, permitia aos gentlemen darem suas baforadas sem que a fumaça de seus charutos
se alastrasse para toda a roupa. Curiosamente, nos EUA a peça chama-se tuxedo, em
referência ao clube frequentado pelo primeiro usuário do modelo nas Américas. Hoje,
fumar não é um ato nobre como era no século XIX, e ninguém realmente considera um
traje específico para isso.
Muita gente acha que smoking é roupa típica de noivo em dia de casamento. Contudo,
isso é um erro. Na verdade, a tradição diz que ele nunca deve ser usado pelo noivo,
especialmente em cerimônias religiosas – embora não se tenha notícia de padres
cancelando as bodas por erro de vestuário. O prometido – assim como seu pai e
padrinhos – deve usar uma casaca tipo fraque ou meio-fraque, de acordo com o horário
da cerimônia.
Os smokings também estão associados ao dress code dos cassinos. Mas, à exceção de
alguns endereços muito específicos, não há restrições sobre o que vestir quando for
apostar em uma roleta ou jogar blackjack. Você pode usar a mesma vestimenta que
usaria em casa. Ou pode optar por um cassino online, que oferece a mesma diversão, e
não exige sequer que se use uma roupa.
Mas então, qual o momento de usar um smoking?
No Brasil, há o costume de usar smoking nas festas de formatura, tanto de segundo grau
quanto de cursos superiores. Porém, audaciosos como os jovens costumam ser, as coisas
às vezes fogem ao controle, e surgem alguns estilos com cores extravagantes como
vinho e azul-bebê. Também se vê ousadia nos tecidos, que podem variar do veludo ao
brim. E, por fim, há uma ideia pouco ortodoxa de como usar e combinar os seus
diversos elementos, tal como a faixa, a gravata e o lenço.
Por outro lado, o traje é uma aposta certa em eventos que exigem black-tie. Eles são
raros, é verdade, mas ainda existem. Se for convidado para um, siga o manual de boas
práticas: use faixa ou colete. Um ou outro, nunca os dois. E seja qual for sua escolha, a
cor ideal é preta, a menos que realmente queira chocar. Se optar pela faixa, ela deve
estar na barriga e nunca deve deixar a camisa aparecer por baixo. As meias têm que ser
pretas, tal como o sapato (não, sapatênis não pode). O paletó precisa ter lapelas mais
largas e elas podem ser de um material diferente, como seda ou cetim. E é essencial que
o lenço no bolso seja do mesmo tecido.
Uma curiosidade pouco conhecida é a gravata. Todos acham que o smoking pede uma
gravata borboleta, mas isso não é verdade. Ela é opcional, e não há nada de errado em
usar um modelo comum, desde que ela combine com o lenço e a faixa, se estiver
usando. A gravata borboleta tradicional, preta, traz um inconveniente: frequentemente
seus usuários são confundidos com os garçons da festa – por mais elegante que a roupa
seja.
Claro que todas essas regras estão baseadas na aplicação clássica do smoking. E,
respondendo à pergunta do título, talvez esse traje, tal como foi concebido, esteja sim,
em extinção. Mas é provável que ele sobreviva subvertendo suas origens. Basta olhar o
tapete vermelho de uma cerimônia do Oscar ou qualquer outro prêmio similar. Lá,
diversas estrelas desfilam com suas criativas versões – algumas elegantérrimas, outras
precisando urgentemente de uma edição. Mas, ainda assim, são smokings.
Na moda, assim como no universo, nada se perde, tudo se transforma.